segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Como a Punição Física pode Prejudicar o Cerebro Infantil

O texto abaixo foi publicado originalmente em inglês no site Psychology Today.

A palmada destrói o desenvolvimento cognitivo nas crianças  diminuindo o QI é o que mostra um estudo Canadense.

Esta análise, conduzida pelo Hospital Infantil de Ontário Oriental, em Ottawa, mostra novas evidências de que a punição corporal provoca comprometimento cognitivo e dificuldades no desenvolvimento a longo prazo.

Debates sobre castigos físicos normalmente giram em torno da ética de usar a violência para impor a disciplina. Este inquérito sintetiza 20 anos de pesquisas publicadas sobre o tema e pretende "mudar o debate ético sobre a punição corporal na esfera médica", diz Joan Durant, professor da Universidade de Manitoba e um dos autores do estudo.

De acordo com o relatório, a palmada pode reduzir a massa cinzenta do cérebro e o tecido conjuntivo entre as células cerebrais. A matéria cinzenta é uma parte integrante do sistema nervoso central e influência nos testes de inteligência e na capacidade de aprendizagem. Isso inclui as áreas do cérebro envolvidas na percepção sensorial, fala, controle muscular, emoções e memória. A pesquisa adicional suporta a hipótese de que crianças e adolescentes submetidos a abuso infantil e negligência têm menos massa cinzenta do que as crianças que não tenham sido mau-tratadas

Os médicos profissionais que investigam os efeitos da palmada a longo prazo têm, consistentemente encontrado, uma ligação entre o castigo corporal e o aumento da agressividade em crianças. Tal como relaciona essa disciplina "educativa" aos níveis emocionais descontroláveis e a dificuldade no desempenho acadêmico. Eles preveem a vulnerabilidade à depressão, geralmente em meninas e a tendência anti-social  frequentemente manifestada em meninos. 

Meninos apanham mais que meninas.

O castigo físico são mais frequentes na primeira infância, em bebês ou crianças pequenas. Os pais de baixa renda e com menos educação formal tendem a bater mais vezes. Os conservadores religiosos tendem a favorecer a punição corporal, embora não seja sempre o caso. O rei James citado em um versículo da Bíblia: Provérbios 13:24, expressa seu sentimento a respeito "poupará a vara e estragará a criança", em linguagem antiquada: Aquele que poupa a vara "odeia" a seu filho, mas o que o ama, desde cedo o castiga.

Quando se usa a punição física como forma de educar, obtém-se resultados rápidos, mas não se reduz o comportamento indesejado. Além dos efeitos fisiológicos prejudiciais, também causam danos emocionais duradouros que inibem o processo de aprendizagem. O castigo físico enfraquece a confiança entre pais e filhos e gera hostilidade contra figuras de autoridade. Apanhar pode posteriormente impedir as relações sociais na sala de aula, onde há um diferencial de poder entre o professor e a criança

É de se admirar que quando batemos enviamos um sinal a criança que a aprendizagem ocorre através da violência? Esta forma de disciplina pretende ser educativa, mas é na verdade a forma que os pais encontraram para desabafar sua própria raiva. Bater envolve a falta de informação do mal que se causa com o intuito de educar. As figuras de autoridade cultural, como pais e professores, podem ser interpretados como fornecedores de sadismo ao invés de conhecimento. Os castigos corporais destroem a compaixão pelos outros,  a compaixão para si mesmo, e limita a capacidade mútua de ganhar discernimento/conhecimento.

Em 1979, a Suécia se tornou o primeiro país a proibir o castigo físico em crianças. Desde então, mais de 30 países já proibiram a punição corporal em casa e nas escolas. No entanto, continua a ser legal para um pai espancar seu filho nos Estados Unidos. Parte da dificuldade em mudar a atitude cultural é  que o castigo físico é um meio eficaz de disciplina e que muitos consideram proibir palmadas como limitar os direitos dos pais. Aqui, pressupõe-se que a criança seja uma propriedade dos adultos e que deva servir ao ego de seus pais.

Nos Estados Unidos, a punição corporal diminuiu desde os movimentos pelos direitos civis da década de 1960. A maioria dos pais que usavam castigos físicos, hoje expressam pesar por isso e desacreditam que houve melhora no comportamento da criança. Meios mais eficazes de disciplinar são: dar "Time outs", "escolhas e consequências" não violentas para o mau comportamento. Estes incluem consequências lógicas (se você não pegar seus brinquedos, eles não estarão disponíveis amanhã) e consequências naturais (se você não colocar o seu casaco, você ficará com frio).

Os pais que administram castigos corporais estão muitas vezes no seu limite. Em outras palavras, a causa desta forma violenta de "educação" esta muitas vezes escondida na história reprimida dos pais. Quando os adultos não entendem as ligações entre as suas experiências anteriores de lesão (punição corporal) eles tendem a repetir ativamente no presente, perpetuam um ciclo destrutivo e infligem o seu próprio sofrimento em seus filhos. A próxima geração continua a levar o dano que foi guardada na mente e no corpo do seu antepassado. Por outro lado, os pais também podem trabalhar para se tornarem conscientes de sua própria dor da infância e reconhecer como eles transmitem e perpetuam a violência batendo em seus filhos.

O ensino eficaz da disciplina sem punição física, pode ter o potencial de reduzir os níveis gerais de violência em nossa sociedade. Em outras palavras, o castigo corporal, do qual bater é uma forma relativamente menor, pode ter implicações sociais mais amplas. Alguns estudos sugerem uma ligação entre a punição física nas crianças e o comportamento envolvido em alguns atos criminosos.

A Academia Americana de Pediatria e a Associação Americana de Psicologia se opõem a punição física. Não se deve tocar em criança ou adolescente por qualquer motivo que seja. Eles aconselham a respeito de como os pais podem lidar melhor com um incidente de punição física no momento de arrependimento depois de ter ocorrido:

 
Os pais devem explicar com calma porque aconteceu a punição física, o comportamento específico que provocou e a raiva que sentiram. Eles também podem pedir desculpas a seu filho pela perda de controle. Isso geralmente ajuda a criança ou o jovem a compreender e aceitar a punição física e serve como modelo para a criança de como corrigir um erro.

O que queremos ensinar a nossos filhos? Apanhar ensina a criança que bater é uma resposta aceitável para a raiva. Mostrar a próxima geração como manejar sua raiva sem violência é crucial