sábado, 13 de abril de 2013

Criação com Apego


No post de hoje vou falar sobre um assunto muito discutido aqui no hemisfério norte: Attachment Parenting (Criação com Apego, em português). Vou explicar um pouco sobre esse conceito de maternidade e porque essas idéias se enquadraram no nosso estilo de criação.
Não existe nada de sobrenatural no assunto, não há regras a serem seguidas e ninguém é melhor ou pior simplesmente porque escolheu colocar em prática tais fundamentos. Attachment Parenting nada mais é do que seguir seus próprios instintos. Escutar o que o seu coração tem a dizer sobre como criar seus filhos e simplesmente segui-lo. Os pilares utilizados nesse estilo de criação são: a intuição, a gentileza, a dignidade, o cuidado, o amor e o respeito pela criança.
De acordo com estudiosos dessa prática, o vínculo entre mãe e filho é instintivo e natural. A criança desde o dia em que nasce sente necessidade de estar perto dos pais e de ser cuidado por eles. Nos primeiros meses de vida do bebê, essa sede de vínculo afetivo é completamente sanada com a presença da mãe. O pai também tem uma participação, mesmo secundária, muito importante nessa fase ao transmitir segurança e bem estar a mãe, aulixando a mulher nos seus anseios e lhe apoiando nos momentos difíceis.
Recentemente, pesquisadores mapearam os cérebros de crianças criadas com bases na “Criação com Apego” e constataram que existem diferenças cognitivas entre os cérebros dessas crianças em comparação ao cérebro de outras crianças, criadas de maneira menos gentis ou que, por algum motivo, foram afastadas de seu cuidadores (mãe/pai) muito precocemente (escolas, creches, babás ou até mesmo crianças dadas a adoção).
Dos livros que li, a respeito de desenvolvimento infantil, um deles me chamou muito a atenção pois fala justamente sobre isso. A psicóloga Margot Sunderland, em seu livro "The Science for Parenting", relata os malefícios causados pelo estress da separação, no aspecto psicológico e biológico da criança, que até hoje eram desconhecidos. Ela explica também que, quanto mais próximos temos os nossos filhos de nós, criando-os de forma respeitosa e atendendo-os sempre de forma gentil, mais seguros, auto-confiantes, inteligentes, independentes e menos ansiosos eles serão no futuro.
Médico Pediatra, Dr. William Sears foi o precursor da teoria. Hoje ele escreve muito sobre essa antiga forma de criação usada pelos nossos ancestrais e tão esquecida nos dias atuais. Um estilo mais próximo, mais consciente e respeitoso de maternidade que, infelizmente, veio se perdendo ao longo do tempo.
Vou descrever como é o Attachment Parenting na prática e como foi naturalmente adaptado ao nosso estilo de vida.
 
Nascimento: A forma como os pais estão preparados para receber a nova vida é fundamental. O ideal é que os pais tenham acesso ao maior número de informações durante a gestação. Espera-se que a mulher receba um bom pré natal e que se alimente de forma saudável livre de qualquer produto ou vícios nocivos a saúde dela e do bebê. Que essa utilize o mínimo possível de intervenções médicas durante a gestação e o parto e, que espere a decisão do bebê em nascer.
O dia do nascimento e os que sucedem são importantes para a conexão entre mãe e filho. Por isso da importância de se manter o bebê junto a mãe todo o tempo. Uma prática muito comum ainda nos dias de hoje é acreditar que se deva levar o recém-nascido para o berçário do hospital, deixando-o longe da mãe por horas, com o intuito de que a mãe descanse no pós parto. Pesquisas dizem que, ao contrário do que se imaginava, mãe e filho necessitam da presença um do outro pois isso diminue o estress em ambos, além de serem horas cruciais para o êxito na amamentação e no relacionamento entre os dois.
Por uma escolha minha, todo o meu pré-natal foi assistido por uma Midwife (Enfermeira Obstetra). Tive poucas intervenções clinicas durante a gestação. Esse era o meu maior desejo: que todo o processo fosse mantido de forma natural. Meu filho veio ao mundo de parto normal, na hora e no dia escolhidos por ele. Mesmo sendo um parto hospitalar, Raphael, não foi levado ao berçário. Ele permaneceu ao meu lado por todo o tempo em que estivemos internados. Essa era uma das minhas grandes preocupações e que foi atendida com muita gentileza pela equipe do hospital.
 
Amamentação: A amamentação como já se sabe é altamente benéfica para a mãe e para o filho.Contém nutrientes importantes para construção das células cerebrais e anticorpos impossíveis de serem encontrados em fórmulas lácteas, além de promover a prolactina e ocitocina no corpo da mãe que ajudam a "aflorar" a maternidade na mulher. Segundo a teoria, a amamentação é vista como forma de reconhecimento da primeira linguagem do bebê. Mulheres que amamentam estão conectadas de forma diferenciada, conseguindo distinguir melhor entre um choro de fome ou de dor.
A criança deve mamar sempre que solicitar, sem necessidade de intervalos de tempos pré-definidos e deve se sentir confortável para mamar até a idade que estiver preparada para o desmame. É o que a teoria chama de “Conexão e Alimento” fazendo com que a mãe exerça sua intuição, dedicação, cuidado e respeito pelo tempo da criança. (amamentação por livre demanda e prolongada).
A amamentação não foi nada fácil para mim, melhor dizendo, para nós. Tivemos vários problemas: pega incorreta, rachaduras, mastites e a principal delas "a neurose" (pela quantidade correta de leite que o meu filho mamava) Hoje, depois de 27 meses de amamentação continua, só tenho a agradecer a minha grande persistência. Li muitos livros, pesquisei muitos sites, fui a inúmeras aulas de amamentação ministradas por especialistas - até quando já não precisava mais, lá estava eu e o Raphael. Sempre com a intenção de dar força para as novas mamães que estavam passando pela mesma situação que já havíamos passado. Mas, acima da minha persistência, estava a força que obtive do meu marido que foi indispensável nessa jornada.
 
Toque: Bebês são muito sensíveis e necessitam de contato físico, afetivo, segurança e estímulo. De acordo com pesquisas científicas, é através dos estímulos sensoriais que se da a formação de um maior número de Sinapses (conexões que favorecem a comunicação entre os neurônios). Quantos mais sinapses se formarem, melhor serão as capacidades cognitivas e maior será o aprendizado ao longo da vida. Especialistas dizem que os primeiros 6 meses de vida, o vínculo afetivo favorece conexões cerebrais ao bebê que irão valer para a vida inteira. Esses estímulo vem através da amamentação, da massagem, do toque durante o banho e do uso do Sling/Wrap.
Raphael sempre foi muito sensível aos estímulos sensoriais. Quando completou um mês, ele tomou seu primeiro banho de chuveiro com o pai. Foi tão calmo, seguro e harmonioso que  simplesmente dormiu durante o banho! E assim foram vários outros banhos. Quando completou dois meses, nós começamos as massagens terapêuticas (shantala) que foram ininterruptas até ele completar 10 meses.Os brinquedos lúdicos, próprios para a idade e que estimulem os 5 sentidos, fazem parte do mundo dele até hoje. O Wrap, nós usamos até há alguns meses atrás, não comprei carrinho de passeio pois, concordo plenamente com a teoria, lugar de criança é no colo sentindo e participando de tudo.
 
Cama Compartilhada: Como já foi dito, para que haja um desenvolvimento em perfeita harmonia, é indispensável que a criança se sinta segura. A hora do sono é um dos momentos mais difíceis para os pais que não conseguem entender essa "dependência" da criança na hora de dormir. A presença da mãe durante o sono do bebê, além de promover conforto e segurança, também ajuda a manter os batimentos cardíacos, a regular a temperatura corporal e a intensidade emocional da criança. Crianças que dormem na cama dos pais ou no mesmo quarto tendem a ter um sono muito mais tranquilo e reparador.
A cama compartilhada ou cosleeping foi uma prática que funcionou muito bem aqui em casa. Nunca cogitei a idéia de dormir longe do meu filho. Desde a maternidade, eu e o Raphael, já dividíamos a mesma cama. Associo essa prática a noites bem dormidas que tenho desde então. Salvos os dias de gripes/resfriados, nunca tivemos problemas.
 
Fornecer cuidados consistente e amoroso: Bebês e crianças pequenas tem a necessidade intensa pela presença física dos pais. O ideal seria que toda criança pudesse dispor dos cuidados de um dos pais em tempo integral. Algumas literaturas que usam a teoria do apego como base citam a idade entre 3 e 4 anos como ideal para o ingresso a escola. Não sendo uma regra, os pais devem estar atentos as necessidades da criança para saber se está ou não preparada ao novo ambiente educacional, independentemente da idade. E, se isso for inevitável, que um dos cuidadores não se ausente mais do que algumas horas por dia.
Por uma escolha mútua, eu deixei de trabalhar para cuidar e educar o nosso filho em casa até que tenha maturidade e entendimento para ingressar a vida escolar. Essa foi uma das decisões mais difíceis que tomamos. Alguns chamam isso de sorte - poder cuidar do próprio filho em tempo integral - eu chamo de remanejamento familiar/diminuição de contas. Decidimos e ponderamos o que era mais importante para nossa família nesse momento.
 
Disciplina Positiva: A dignidade é fundamental para o ser humano. Quando os pais utilizam de punição como forma de disciplina, isso fere a dignidade da criança. Seja qual for a prática: um tapa, um cantinho do pensamento (time out), gritos/ humilhação verbal ou deixar chorar para "aprender a se acalmar", são formas de disciplinas não aceitáveis pois não utilizam da forma gentil de educar.
Somos seres humanos, passíveis de erros e cheios de problemas no dia-a-dia que nos consomem e, diversas vezes nos tiram a paciência. Lidar com uma criança cheia de energia e com um turbilhão de sentimentos aflorando e, muitas vezes, sem saber como lidar com eles, não é fácil. Manter uma atitude positiva não é impossível. Quando me perguntam como eu faço, eu sempre digo que: Vim me preparando para os dias difíceis. Li o maior número de artigos e livros possíveis sobre como lidar com cada fase, além de, confiar muito nos meus instintos e, particularmente, estamos indo muito bem. Tenho uma tática: a conversa olho no olho, usar a mesma altura que ele e as explicações incansáveis do certo e errado tem nos ajudado muito. Aqui em casa não acreditamos em cantinhos, gritos ou tapas como forma de educação. Outra tática utilizada é a de nunca nos sobrecarregarmos. A ajuda mútua e o compartilhar de idéias, quando o assunto é a educação do pequeno, é a direção para uma disciplina positiva.
 
Balanceie a vida profissional e pessoal: "É muito mais fácil ser emocionalmente sensível quando você se sentir em equilíbrio". A maternidade é uma constante aprendizagem. Saber que pais equilibrados não negligenciam seus filhos é um ótimo começo. Por isso da importância da divisão de responsabilidade e tarefas. Bebês necessitam de cuidados 24 horas do dia e isso requer mais de uma pessoa responsável para que não haja uma sobrecarga.
Hoje aceito melhor a idéia de que somos humanos e de que como tal precisamos de ajuda. Na maioria das vezes não é fácil aceitar essa condição mas, é fundamental para se manter o equilíbrio interno e familiar. E, quando percebi que a melhor maneira de conseguir o sucesso na criação do meu filho era a de não me sobrecarregar, busquei compartilhar com meu marido todas as tarefas, inclusive o amor e a atenção do nosso filho e assim “as coisas” ficaram muito mais leves. Não melhorei 100%, mas garanto que estou fazendo o meu melhor.
 
Os pais que optam pela Criação com Apego também acreditam em uma alimentação natural (NO junks foods) com base em produtos orgânicos na sua maioria, na utilização de produtos inofensivos a saúde e ao meio ambiente, na abdicação aos “Night Outs” (até que a criança possa entender sobre a relação do ir e vir sem que se sinta abandonada pelos pais) e, por fim, a circuncisão (prática muito comum por aqui e que é “abominada” pela teoria uma vez que fere a decisão da criança sobre o seu próprio corpo).

 

6 comentários:

  1. Oi Tammy
    Muito legal seu post e muito esclarecedor. Vamos divulgar a criação com apego pois é disto que nossas crianças estão precisando.
    Beijos,
    Jamile
    Mãe para Mães
    www.maeparamaes.com
    #amigacomenta

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  2. Tammy, o teu post é muito bom, maravilhoso, tbm optei por parar de trabalhar, aqui a cama é compartilhada, minha filha vivia dentro do sling grudadinha em mim, mamou até quando quis, o nosso único problema agora é a idade escolar, nós queríamos que ela fosse p/ escola só aos 7 anos, mas as leis mudaram, agora o pai é obrigado a colocar a criança com 4 anos na escola p/ iniciar a alfabetização e eles não aceitam a educação domiciliar (infelizmente). Acho muito boa a "Criação com Apego", todos saem ganhando.
    Bjs
    #amigacomenta

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  3. Ótimo seu post, Tammy! Nunca tinha lido afundo sobre esse tema. Não gosto muito de seguir "manuais de maternidade" porque né? com mais de um filho, e maiorzinhos, isso fica bem mais complicado rs. Mas concordo que a base da criação deve ser o amor, a contato constante com os filhos, e a dignidade! gde beijo
    #amigacomenta

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  4. Oie Tammy
    Adorei o seu post.
    Achei muito esclarecedor.
    Eu adoto a criação de fazer o que eu sinto. Adoro proteger e ter Samuel por perto.
    Bjks
    http://makeviagem.blogspot.com.br/2013/04/cincos-makes-para-usar-no-trabalho.html
    #amigacomenta

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  5. Adorei.
    E adoro a palavra APEGO.
    Aqui é criação com muuuito apego, apego até demais... ahahaha

    Beijo
    Adorei o blog!

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  6. OI Tammy,
    muito legal esse conceito. Acredito plenamento no instinto e na ligação natural entre mãe e filho.
    Aqui também tive dificuldades para amamentar a minha primeira filha, mas a questão principal era a neura pela quantidade de leita. Mas graças a minha persistência e muito incentivo do marido eu segui em frente.
    É isso aí: criança com muito apego!
    beijos
    Chris
    http://inventandocomamamae.blogspot.com/
    #amigacomenta

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